O emissário saiu
desanimado daquela fazenda. “O senhor veio em má hora” – respondia o
proprietário. “Não posso dar nada à Independência do Brasil.”
Sua
filha, que ouvira tudo, esperou baixar o silêncio naquele oco de mundo. Tosou
rente os cabelos, pulou a janela e foi até a casa da irmã emprestar as roupas
do cunhado. Depois, cavalgou 80 km até Cachoeira, onde se organizava o exército
de libertação. Deu o nome de Medeiros – e no dia seguinte já estava de guarda.
O serviço era pesado, e Medeiros mudou para o Regimento dos Periquitos, golas e
punhos verdes, no qual lutou um ano inteiro.
Por
que fizera aquilo? Maria Quitéria de Jesus era uma sertaneja de 30 anos,
requeimada de sol, pômulos salientes. Analfabeta, não entendia nada de
política. Mas, como milhares de homens e mulheres naquele ano, tomara-a um
irresistível sentimento anticolonialista. Medeiros – ou Maria – matou e feriu
por causa justa. Foi promovida a cadete e, quando lhe descobriram a identidade,
começou a usar saiote, sobre as calças. Dia 2 julho entrou em Salvador na
primeira fila dos vencedores.
Pedro
convidou-a para ir ao Rio, receber medalha de ouro. Para não fazer feio, diante
de gente fina, aprendeu a garatujar o nome durante a viagem. “Quer algum
pedido, d. Maria?”, perguntou Pedro. “Quero. Escreva ao meu pai pedindo para me
perdoar porque fugi de casa naquela noite.” A noite que cavalgou 80 km pela
Independência do Brasil.
Joel Rufino dos Santos. História do Brasil. São Paulo, Marco
Editorial, 1979.
Questões
sobre o texto:
1] Como Maria Quitéria
se disfarçou para poder integrar o exército de libertação?
2] Por que Maria
Quitéria participou da luta pela Independência?
3] Que pedido Maria
Quitéria fez ao imperador?