quarta-feira, 13 de maio de 2020

Texto complementar: Maria Quitéria


O emissário saiu desanimado daquela fazenda. “O senhor veio em má hora” – respondia o proprietário. “Não posso dar nada à Independência do Brasil.”
         Sua filha, que ouvira tudo, esperou baixar o silêncio naquele oco de mundo. Tosou rente os cabelos, pulou a janela e foi até a casa da irmã emprestar as roupas do cunhado. Depois, cavalgou 80 km até Cachoeira, onde se organizava o exército de libertação. Deu o nome de Medeiros – e no dia seguinte já estava de guarda. O serviço era pesado, e Medeiros mudou para o Regimento dos Periquitos, golas e punhos verdes, no qual lutou um ano inteiro.
         Por que fizera aquilo? Maria Quitéria de Jesus era uma sertaneja de 30 anos, requeimada de sol, pômulos salientes. Analfabeta, não entendia nada de política. Mas, como milhares de homens e mulheres naquele ano, tomara-a um irresistível sentimento anticolonialista. Medeiros – ou Maria – matou e feriu por causa justa. Foi promovida a cadete e, quando lhe descobriram a identidade, começou a usar saiote, sobre as calças. Dia 2 julho entrou em Salvador na primeira fila dos vencedores.
         Pedro convidou-a para ir ao Rio, receber medalha de ouro. Para não fazer feio, diante de gente fina, aprendeu a garatujar o nome durante a viagem. “Quer algum pedido, d. Maria?”, perguntou Pedro. “Quero. Escreva ao meu pai pedindo para me perdoar porque fugi de casa naquela noite.” A noite que cavalgou 80 km pela Independência do Brasil.
                                     Joel Rufino dos Santos. História do Brasil. São Paulo, Marco Editorial, 1979.

Questões sobre o texto 
1] Como Maria Quitéria se disfarçou para poder integrar o exército de libertação?
2] Por que Maria Quitéria participou da luta pela Independência?
3] Que pedido Maria Quitéria fez ao imperador?

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Texto complementar: Liberalismo


Vejamos [...] os princípios liberais. Para estes, a maioria dos problemas econômicos e sociais decorre da intervenção do Estado na economia ao pretender regulamentar preços, salários, trocas comerciais etc. O correto seria deixar que os mecanismos econômicos "naturais" funcionassem. A economia tenderia a se organizar por si mesma, para o bem de todos. O único papel reservado ao Estado seria o de proteger a propriedade privada e a liberdade dos cidadãos.
Uma das obras básicas do liberalismo é A riqueza das nações, de Adam Smith (1723-1790), publicada em 1774, que analisa, por exemplo, as oscilações dos preços. O preço de mercado de um produto depende da lei da oferta e da procura. Se um produto é abundante e a oferta é maior que a procura, seu preço de mercado tende a cair. Por sua vez, se um produto é escasso, cuja oferta é menor que a procura, seu preço de mercado tende a subir. Assim, o preço de mercado tende sempre a se aproximar do preço "natural". Os salários dos trabalhadores também estão submetidos a esse regime "natural". Existiria, portanto, o que se chamava a "mão invisível" do mercado, que se encarregaria de equilibrar as disparidades sem a intervenção do Estado que, diga-se de passagem, apenas atrapalharia tal equilíbrio natural. [..]
CARMO. Paulo Sérgio do. O trabalho na economia global.
São Paulo: Moderna. 1998. p. 32-3. (Polêmica).
a) De acordo com os princípios liberais, qual seria a principal origem dos problemas econômicos e sociais? Qual a solução que eles apresentam para esses problemas?
b) Como funciona a lei da oferta e da procura, explicitada na obra de Adam Smith?
c) Segundo Smith, qual é a relação do Estado com o chamado "equilíbrio natural" dos preços e salários?

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Texto complementar: A guerra da Independência


             Em algumas partes do país forças portuguesas tentaram resistir à Independência e só foram vencidas após duras lutas. Os maiores focos de resistência do poder português estavam instalados na Bahia e no Pará. Contra eles desencadeou-se um combate de forças populares locais, que, mais tarde, foram ajudadas por tropas e navios vindos do Rio de janeiro.
         Os baianos, liderados por figuras como guerrilheira Maria Quitéria, mantiveram encurraladas as tropas do general Madeira Melo, definitivamente vencidas com a chegada de forças auxiliares comandadas pelo francês Labatut. A guerra de Independência na Bahia começou em fevereiro de 1822, atingiu o auge em novembro daquele ano com a Batalha de Pirajá e terminou no dia 2 de julho de 1823. Com a derrota dos portugueses, estabeleceu-se na província um governo fiel ao imperador, sem qualquer participação das classes populares.
         No Pará, ocorreu um processo semelhante, que terminou em tragédia. As classes populares derrotaram o domínio português com a ajuda de forças navais, mandadas pelo Rio de Janeiro e comandadas pelo inglês Grenfell. Implanto o novo governo provincial, fiel a dom Pedro, mas extremamente impopular, os paraenses novamente se rebelaram, sendo duramente reprimidos. Grenfell encarcerou trezentos patriotas no porão de um navio e mandou atirar sobre eles, através das escotilhas, grande quantidade de cal virgem. Quase todos morreram.
                                               Edgar Luiz de Barros. Independência. 2ª Ed. São Paulo, Ática, 1987.

Questões sobre o texto:
1] O que fizeram as forças portuguesas de algumas partes do país diante do movimento pela Independência do Brasil?
2] Quem lutou contras essas forças portuguesas?
3] O que aconteceu a muitos patriotas paraenses que haviam lutado contra os portugueses, depois de instalado um governo fiel a dom Pedro?

terça-feira, 28 de abril de 2020

Texto complementar: Fontes históricas


O texto a seguir foi retirado de um livro que explica as etapas da pesquisa do historiador. Leia-o com atenção e responda às questões propostas.

Esta cena já apareceu em muitos filmes. A testemunha na tribuna, olhando fixamente para o acusado: "Foi ele! Eu vi com meus próprios olhos!". Ninguém duvida da boa vontade da testemunha, mas ... podemos confiar nela?
As pessoas que presenciam um fato qualquer - o roubo de um banco, por exemplo - nem sempre coincidem ao relatar o ocorrido. Uma testemunha declara que os ladrões eram}] dois homens e uma mulher; outra acha que eram três homens. Essas discrepâncias podem ser atribuídas a erros de observação, que vão aumentando se a testemunha demorar a declarar ou narrar o que aconteceu.
Em outros casos, os preconceitos das testemunhas podem alterar a visão dos fatos. Se um árbitro anula um gol em uma partida de futebol, a razão que motivou a decisão arbitral é vista de forma distinta pelos torcedores de um ou outro time.
Outras vezes, um mesmo acontecimento é apresentado à opinião pública de forma deliberadamente diferente em vários jornais, o que pode ser explicado pelas diferentes ideologias dos meios de comunicação, que os levam a "manipular" a notícia.
Estas três distorções da realidade estão claramente presentes na reconstrução da vida de pessoas e de acontecimentos do passado e, por isso, o historiador tem que analisar, com suma cautela, os diferentes tipos de provas de que dispõe.
Não é raro que as fontes {...] ofereçam opiniões ou juízos de valor contraditórios sobre o mesmo acontecimento ou a mesma pessoa. A explicação é que um autor pode ter erros de observação, preconceitos ou ideologias determinadas. E, às vezes, depois de analisar todas as provas, o historiador não encontra razões suficientes para extrair conclusões seguras.
GRINBERG, Keila. Oficinas de História, projeto curricular de Ciências
Sociais e de Hist61ia. Belo Horizonte: Dimensão, 2000. p. 186-187.

a) Segundo o texto, as fontes históricas informam sempre a verdade?
b) Quais são as três distorções que, segundo a autora, uma fonte histórica pode sofrer?
c) Que procedimento o historiador deve adotar para procurar corrigir essas distorções?

Texto complementar: Os homens dos sambaquis


Como viviam os povos que habitavam as regiões em que hoje são encontrados os concheiros ou sambaquis? Veja no texto o que se descobriu nas pesquisas dos arqueólogos.

         Durante muito tempo se pensou que os casqueiros do litoral eram um amontoado de conchas trazidas à costa pelas marés. Com a destruição de alguns deles para fins industriais e até para construção de estradas, descobriu-se que eram lugares arqueológicos, antigas residências de povos nômades que ali viveram em várias épocas. Eram na realidade sambaquis e os mais antigos poderiam ter até 8.000 anos.
         Nestas elevações de conchas, de uma altura média de 5 a 7 metros, foram encontrados instrumentos de pedra lascada e polida, objetos de osso, esqueletos humanos, restos de fogueira e outros traços de presença do homem.
         Este tipo de vida, própria dos coletores de mariscos, foi encontrado não só no litoral sul do Brasil (São Paulo e Santa Catarina), mas no litoral paraense e nas costas pacífica e atlântica de toda a América. Isto mostra que foi um modo de vida de povos nômades, que vindos do norte, chegaram até a Patagônia, no sul do continente (...)
         Certas ossadas comprovam também uma grande semelhança física com os povos da Patagônia. Eram baixos – o homem com 1,63m e a mulher com 1,52m; muitos de seus dentes eram desgastados até a gengiva, o que mostra que eram usados para abrir conchas e mastigar raízes duras.
         Os grupos não deviam ultrapassar cem pessoas pó área, devido à alimentação escassa. Mudavam constantemente, mas voltavam sempre para o mesmo local, que deveria ser rico em mariscos e peixes.
         Eram também caçadores, pois entre as conchas foram encontrados ossos de mamíferos e aves.
         Não conheciam a cerâmica, mas eram numerosos os instrumentos e enfeites de ossos e conchas marinhas. As posições das ossadas humanas são as mais diversas, desde a fetal até a sentada, com pernas cruzadas, indicando um ritual funerário. Deviam viver em cabanas muito simples, pois não há sinais de habitação. 


1 - Questões sobre o texto
a – Durante muito tempo, o que se pensou que fossem os casqueiros do litoral? O que se descobriu depois? ?
b – O que se encontrou nos sambaquis e qual sua localização.
c – Como viviam os grupos humanos que construíam os sambaquis? 


2 - Complete as lacunas

Os primeiros habitantes da América viviam basicamente da _____________, da pesca e da coleta de frutos e raízes. Eles não conheciam a agricultura e levavam uma vida _____________, ou seja, deslocavam-se constantemente em busca de recursos disponíveis na natureza. O desenvolvimento da _________________, por volta de 7 mil anos atrás, provocou grandes mudanças na vida humana: aos poucos, as comunidades adotaram um modo de vida ______________, fixando-se por mais tempo na terra, e puderam dispor de uma ________________ mais nutritiva. Entre as primeiras plantas cultivadas destacam-se o _______________, onde hoje está o México, e a mandioca, nas terras do atual ___________. 


Uma colinha para ajudar: alimentação – caverna -  comércio – pedra - caça – história – café - cidade - cebola - milho -  fogo - nômade –  preguiçosa - agricultura –  repolho - sedentário -  Brasil – arroz – Japão – valente – escola – comunidade -  pesca – México – Bering – sono - cidade.


Texto complementar: A Belle Époque e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)


A Belle Époque (expressão francesa que significa bela época) foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa que começou no fim do século XIX, com o final da Guerra Franco-Prussiana, em 1871, e durou até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914. A expressão também designa o clima intelectual e artístico do período em questão. Foi uma época marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano.
Foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre os países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. A Belle Époque foi representada por uma cultura urbana de divertimento, incentivada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte, os quais aproximaram ainda mais as principais cidades do planeta. Esse período de otimismo e confiança no progresso chega ao fim com as tensões e rivalidades que levaram os países europeus a iniciarem a Grande Guerra. 
                Graças à sua indústria, a Inglaterra dominava a maioria dos mercados consumidores mundiais. Mas a indústria da Alemanha, logo após a unificação, desenvolveu-se e o país passou a procurar mercados consumidores e fontes de matérias-primas.
         O governo alemão projetou a construção de uma estrada de ferro ligando a cidade de Berlim a Bagdá, com a finalidade de ter acesso ao petróleo do Golfo Pérsico e aos mercados orientais. A Inglaterra opôs-se a esse projeto, porque criaria dificuldades para o comércio com suas colônias. Para deter o avanço da Alemanha, os ingleses procuraram alianças.
         Em 1904, a França aliou-se à Inglaterra porque, quando perdeu os territórios da Alsácia-Lorena, sua indústria ficou prejudicada com a falta de minas de ferro e carvão. Os nacionalistas franceses pregavam o revanchismo e a recuperação dos territórios perdidos.
         Finalmente, a França e a Alemanha disputaram o domínio do Marrocos, país ao norte da África. Ao mesmo tempo, eclodiu a chamada crise dos Bálcãs. Em 1908, dois Estados eslavos, a Bósnia e a Herzegovina, foram anexados ao Império Austro-húngaro, contrariando o ideal nacionalista, o pan-eslavismo, a união e a autodeterminação dos povos eslavos.
         Os governos dos países capitalistas clamavam pela paz, mas estimulavam a fabricação de armamentos e recrutavam civis para o exército. O militarismo cresceu e era cada vez difícil manter o equilíbrio manter o equilíbrio entre as nações imperialistas. Os focos de tensão e a disputa pela supremacia levaram os países europeus à corrida armamentista.
         Para defender seus interesses, as nações europeias buscaram alianças. Surgiram dois blocos: a Inglaterra, a Franças e a Rússia formaram a Tríplice Entente, e a Alemanha, o Império Austro-húngaro e a Itália, a Tríplice Aliança.
         No dia 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-húngaro, em visita a Sarajevo, capital da Bósnia, foi assassinado. A responsabilidade do assassinato coube a um estudante que fazia parte de uma sociedade secreta da Sérvia, a Mão Negra. Esse foi o primeiro estopim para a deflagração da Primeira Guerra Mundial.

Questões sobre o texto:
1 – Defina “Belle Époque”
2 – Por que a Alemanha ameaçava o poder da Inglaterra?
3 – O que fez a Inglaterra para deter o avanço da Alemanha?
4 – Por que a França tinha interesse em enfraquecer a Alemanha?
5 – Quais foram os blocos em que se dividiram os países europeus?
6 – Que fato desencadeou a Primeira Guerra Mundial?

Texto complementar: Democracia



Talvez você já tenha ouvido falar que o Brasil é uma democracia. Mas sabe o que isso significa? O nosso país é uma democracia porque, aqui, considera-se que a opinião dos cidadãos deve ser a base de tudo. Tanto é que, em nosso país, cabe aos próprios brasileiros escolher quem deve governá-los - quem será o prefeito, o governador, o presidente da República – e também quem deve representá-los - os deputados federais e estaduais, os vereadores ...E essa escolha é feita nas urnas!
Há, porém, vários tipos de democracia. O Brasil, por exemplo, é uma democracia presidencialista. Como vimos, os eleitores, em nosso país, não apenas elegem seus representantes, mas, também, o presidente da República, a maior autoridade política da Nação e quem governa de fato. Em alguns países que são democracias parlamentaristas, porém, isso não ocorre. Quando acontecem eleições nacionais ali, a população elege apenas seus representantes - o equivalente aos deputados federais brasileiros -, formando o que chamamos de parlamento. O parlamento, por sua vez, vota para escolher o primeiro-ministro, a pessoa que irá governar de fato. Em geral, torna-se primeiro-ministro o líder do partido que conseguiu eleger um maior número de representantes.
Como o presidencialismo, o parlamentarismo é democrático também. Afinal, é apoiado no voto dos eleitores em partidos e candidatos de sua livre escolha: quem escolheu os representantes que estão no parlamento foi o eleitor, não é mesmo? De fato, a maior diferença entre o parlamentarismo e o presidencialismo é que, no segundo, quem decide quem vai governar
é o eleitor - e não o parlamento. Por isso, teoricamente, em países presidencialistas, como o Brasil, o eleitor tem mais poder, por votar não apenas em seus representantes, mas, também, em quem irá governá-la de fato: o presidente da República.

        Renato Lessa. No mundo das eleições. Ciência Hoje das Crianças. Rio de Janeiro: SBPC, ano 19, n. 173, out, 2006. p. 8-9.

Responda:
a) Quais são os dois tipos de democracia apresentados no texto? Qual deles está em vigor no Brasil?
b) Quais as principais diferenças entre esses dois tipos de democracia?
c) Em qual desses dois tipos de democracia o eleitor participa diretamente da escolha dos governantes? Por quê? (05)

Texto complementar: A educação espartana



         “Quando uma criança nascia, o pai não tinha o direito de cria-la: devia leva-la [...] [aos] anciões da tribo.  Eles examinam o bebê. Se o achavam bem encorpado e robusto, eles o deixavam. Se era mal nascido e defeituoso, jogavam-no no que se chamava Apotetos, um abismo ao pé do Taigeto, julgavam que era melhor, para ele mesmo e para a cidade, não deixar viver um entre que, desde o nascimento, não estava destinado a ser forte e saudável. [...]
         Ninguém tinha permissão para criar e educar o filho a seu gosto. Quando os meninos completavam sete anos, ele próprio [Licurgo] os tomava sob sua direção, arregimentava-os em tropas, submetia-os a um regulamento e a um regime comunitário para acostumá-los a brincar e trabalhar juntos. Na chefia, a tropa punha aquele cuja inteligência sobressaia e que se batia com mais arrojo. Este era seguido [...] e punia sem contestação. Assim sendo, a educação era um aprendizado da obediência. 
         Os anciões vigiavam os jogos das crianças. Não perdiam uma ocasião para suscitar entre eles brigas e rivalidades. [...] Ensinavam a ler e escrever apenas o estritamente necessário. O resto da educação visava acostumá-los à obediência, torná-los duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. Do mesmo modo, quando cresciam, eles recebiam um treinamento mais severo: raspavam a cabeça, andavam descalços, brincavam nus a maior parte do tempo. [...] Quando completavam doze anos, não usavam mais camisa. Só recebiam um agasalho por ano. Negligenciavam o asseio, não conheciam banhos [...], a não ser em raros dias do ano.
         [O chefe da tropa] manda os mais fortes trazerem lenha e, os menores, legumes. Para tanto, eles devem roubar. Uns penetram nos jardins, outros nos alojamentos dos homens, e devem usar muita destreza e precaução [...]. Aquele que for apanhado está sujeito a chicotadas e jejum. Com efeito, sua alimentação é escassa. Obrigam-nos a defenderem-se por si mesmos contra as restrições e recorrer   à audácia e à destreza...”
PLUTARCO. A vida de Licurgo. In: PINSKY, Jaime. 100 textos de história antiga. São Paulo: Contexto, 2009. p. 108-110.

Responda:
1) Qual era o principal objetivo da educação dos meninos espartanos? 
2) Em Esparta, segundo Plutarco, os pais não tinham permissão para educar os filhos. Sabendo qual era o objetivo da educação dos meninos em Esparta, explique por que os anciões da tribo tomavam essa decisão.
3) Por que os anciões de Esparta costumavam provocar brigas e rivalidades entre os meninos? 

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Texto complementar: A queda da Monarquia e a Proclamação da República



A crise do Império brasileiro foi o resultado de vários fatores de ordem econômica, social e política que somando-se, conduziram importantes setores da sociedade a uma conclusão: a Monarquia precisava ser superada para dar lugar a um outro regime político, mais adaptado aos problemas da época.
A crise do Império foi marcada por uma série de questões que desembocaram na proclamação da República.
·         Questão abolicionista ( ou escravista): Os senhores de escravos, principalmente os do Vale do Paraíba e da Baixada Fluminense, não se conformaram com a abolição da escravidão e com o fato de não terem sido indenizados. Sentindo-se abandonados pela Monarquia, acabaram também abandonando-a, passando a apoiar a causa republicana. Surgem, então, os chamados Republicanos de 13 de maio.
·         Questão republicana: As ideias republicanas faziam parte de diversos movimentos brasileiros com a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana, a Revolução Pernambucana, a Confederação do Equador, etc. Contudo, somente a partir de 1870, o movimento republicano ganhou uma formação mais sólida e concreta. Nesse ano, foi lançado no Rio de Janeiro um Manifesto Republicano que, em um dos seus trechos, afirmava: “Somos da América e queremos ser americanos”. Isso significava que, no continente americano, o Brasil era o único país que mantinha o regime monárquico. Três anos depois do aparecimento do Manifesto Republicano, foi fundado o Partido Republicano Paulista, na Convenção de Itu, em São Paulo. Este Partido, que se tornou um dos principais núcleos das ideias republicanas, era apoiado por importantes fazendeiros de café de São Paulo, contando com adeptos no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.
·         Questão religiosa:  Desde o período colonial, a Igreja Católica era uma instituição submetida ao Estado pelo regime de padroado. Isso significava, entre outras coisas, que nenhuma ordem do Papa poderia vigorar no Brasil, sem que fosse aprovada pelo Imperador, o governo também nomeava os bispos e remunerava os sacerdotes. Ocorre que, em 1872, D. Vidal e D. Macedo, bispos de Olinda e de Belém, respectivamente, resolveram seguir ordens do Papa, punindo irmandades religiosas que apoiavam os maçons. D. Pedro II, influenciado pela Maçonaria, decidiu intervir na questão, solicitando aos bispos que suspendessem as punições. Estes se recusaram a obedecer ao Imperador e, por isso, foram condenados a quatro anos de prisão. Em 1875, os bispos receberam o perdão imperial e foram colocados em liberdade. Contudo, o Império foi perdendo a simpatia da Igreja.
·         Questão militar: Depois da Guerra do Paraguai (1864 -1870), o Exército brasileiro foi adquirindo cada   vez mais importância dentro da sociedade. O Governo Imperial, entretanto, teimava em não reconhecer esta importância, relegando-o a posição secundária. O descaso que alguns políticos e ministros conservadores tinham pelo Exército levava-os a punir elevados oficiais por motivos qualificados como indisciplina militar. O ponto de partida para as questões militares foi a proibição, em 1884, aos oficiais do exército de se manifestarem publicamente por meio da imprensa sem a devida licença do ministro da Guerra. É dentro deste pano de fundo que surge em 1884 a questão militar, provocada pela revolta de importantes chefes do Exército, como o Marechal Deodoro, contra as punições disciplinares conferidas ao tenente-coronel Antônio Sena Madureira e ao Coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos. A repressão imperial aumentou a agitação política nos quarteis e empurrou ainda mais os militares para as ideias republicanas. Poucos anos depois, a corporação não hesitaria em depor a Monarquia, abrindo fogo contra seus inimigos.
No decorrer de 1889, o jornalista Quintino Bocaiúva, escolhido chefe nacional do movimento republicano, procurou se aproximar dos militares em busca de apoio na luta contra a monarquia. No dia 11 de novembro, um grupo conseguiu convencer o marechal Deodoro da Fonseca a apoiar a causa republicana. Até então, Deodoro, que não era positivista, encontrava-se relutante, devido à sua amizade com o imperador.
Ao mesmo tempo, os militares republicanos do Rio de Janeiro estabeleceram contatos com lideres civis de São Paulo, que apoiaram a ideia de um golpe para proclamar a República. Marcado para o dia 20 de novembro, ele foi antecipado. É que, no dia 14, um major espalhou o boato de que o governo decretara a prisão de Deodoro da Fonseca e de Benjamin Constant.
Na véspera de 15 de novembro, Benjamin Constant esteve na casa de Deodoro, que estava doente: “Creio que não amanhece e se morrer a revolução está gorada.”
De manhã, o moribundo da véspera era o redivivo. Deodoro dormira mal a noite, com dificuldade para respirar. Quintino  Bocaiúva e Benjamin Constant  foram busca-lo. Deodoro usava uniforme sobrecasaca, de botões dourados, sem espada. Os três, de carro, seguiram ao encontro da tropa, em frente ao Quartel-General. Ali o ministério estava reunido.
Deodoro se propunha a depor o governo, mas sem acabar com o Império nem derrubar o imperador que era seu amigo. Devido ao seu estado de saúde, só ali é que montou a cavalo. Como de praxe, ao assumir o comando da tropa, erguendo o boné, deu o grito de “Viva o imperador” que, segundo testemunhas, foi abafado por salvas de artilharia, ordenadas por Benjamin Constant.
Deodoro, doente e abatido, entra no Quartel-General e fala a Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros: “Vossa Excelência e seus colegas estão demitidos por haverem perseguido oficiais do Exército. Nos pântanos do Paraguai, muitas vezes atolado, sacrifiquei minha saúde em benefício da pátria...”
Ouro Preto, altivo, responde: “Maior sacrifício, general, estou fazendo, ouvindo-o falar”. Fora, ouviam-se vivas à República.
Os republicanos queriam uma declaração explícita da mudança do regime. À tarde, reuniram-se com Deodoro, na sua casa, que ainda não havia resolvido se aceitava ou não a República. Mas, quando soube que o imperador havia chamado seu inimigo Silveira Martins para formar um novo governo, Deodoro decidiu-se em favor dos republicanos e, mais tarde, assinou a proclamação acabando com o Império.

No dia seguinte, o major Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro entregou a dom Pedro II uma comunicação, cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua partida para a Europa, a fim de evitar conturbações políticas. Dom Pedro, após da saída dos oficiais, ditou para Franklin Américo de Meneses Dória, o barão de Loreto, e depois assinou a resposta ao marechal Deodoro: "À vista da representação escrita, que foi entregue hoje às 3h da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir com toda a minha família amanhã, deixando esta pátria, de nós estremecida, à qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranhado amor e dedicação durante quase meio século em que desempenhei o cargo de chefe de Estado. Ausentando-me, pois, eu com todas as pessoas da minha família, conservarei do Brasil e mais saudosa lembrança, fazendo ardentes votos por sua grandeza e prosperidade. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889. dom Pedro d´Alcântara."  A família imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao Brasil na década de 1920. No dia 5 de dezembro de 1891, morre em Paris, o último imperador do Brasil, Dom Pedro II. Vítima de uma pneumonia, faleceu aos 66 anos.

Adaptado de:

AZEVEDO, Gislaine Campos. História em movimento: ensino médio /Gislaine Campos Azevedo, Reinaldo Seriacopi - São Paulo: Ática. 2010.
COTRIM, Gilberto. História  do Brasil: para uma geração consciente - São Paulo. Saraiva. 1998.
PILETTI, Nelson. História e vida / Nelson Piletti, Claudino Piletti - São Paulo. Ática. 2000. 
REY, Marcos. Proclamação da República. São Paulo. Ática, 1985, p. 18.


#Questões sobre o texto:
1 – O que era o regime do padroado?
2 - O que fizeram os bispos de Olinda e de Belém em relação à maçonaria? Qual foi a reação do governo imperial em relação ao caso?
3 – Quais episódios deram origem à Questão militar? Quais as consequências da repressão imperial?
4 – Quem seriam os “republicanos de 13 de maio”? Como surgiram e como reagiram diante do Império?
5 - Explique a frase “Somos da América e queremos ser americanos” e em qual contexto ela foi usada.
6 – Porque Marechal Deodoro relutava participar do movimento republicano? Quais motivos os fizeram mudar de posição?

quinta-feira, 5 de março de 2020

Texto complementar: Conjuração Mineira (1789) X Conjuração Baiana (1798)




Ao estudarmos as revoltas coloniais, percebemos que cada um dos levantes relacionados a essa parte do passado brasileiro é marcado por características e razões muito específicas. Os maranhenses protestaram contra a falta de incentivo da Coroa; os olindenses contra o favorecimento dos comerciantes lusitanos de Recife; os mineiros contra as imposições coloniais; e os bandeirantes paulistas tentaram resistir à chegada dos lusitanos ao interior.
De fato, não podemos dizer que os sujeitos históricos daquela época sonhavam com a criação de uma nação brasileira soberana e independente. A distância entre as regiões coloniais do vasto território era um dos fatores que mais fortemente contribuíram para a ausência de tal ideologia. Ao mesmo tempo, os valores iluministas que adentraram a Europa naquela época se manifestavam nos dizeres de poucos membros da sociedade, em sua maioria, ligados à elite local.
Vistas como as duas mais expressivas revoltas do tempo colonial, a Inconfidência Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 ficaram conhecidas como as duas revoltas que defendiam a extinção do pacto colonial. O Pacto Colonial pode ser definido como um conjunto de regras, leis e normas que as metrópoles impunham às suas colônias durante o período colonial. Estas leis tinham como objetivo principal fazer com que as colônias só comprassem e vendessem produtos de sua metrópole. Através deste exclusivismo econômico, as metrópoles europeias garantiam seus lucros no comércio bilateral, pois compravam matérias-primas baratas e vendiam produtos manufaturados a preços elevados. De fato, as imposições lusitanas e a falta de interesse pelo desenvolvimento da economia interna motivaram mineiros e baianos a conspirar contra o domínio de Portugal. Além disso, essas duas revoltas foram ideologicamente sustentadas pelas noções dos escritos iluministas.
Apesar de terem sido frustradas pelas autoridades, a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana foram marcadas por profundas diferenças. Os participantes da revolta em Minas Gerais eram todos ligados às elites locais e pretendiam melhorar sua situação com a formação de um governo livre dos impostos e representantes do poderio metropolitano, além de afastar o perigo da cobrança da “Derrama”, a qual poderia promover a investigação de sonegações e contrabandos. Até mesmo o alferes Tiradentes, segundo alguns pesquisadores, tinha uma condição financeira relativamente confortável.
Na Bahia, a conjuração, inicialmente, teria características muito semelhantes à da revolta que aconteceu em Minas Gerais. A elite local pretendia conduzir a tomada do poder conclamando os populares a lutarem contra seus opressores. Contudo, as condições miseráveis e as propostas de transformação disseminadas anonimamente por panfletos e pasquins instigaram os populares a tomarem conta do movimento. Mulatos, escravos, brancos pobres e negros libertos se transformaram em cabeças do levante.
A perda da condição de capital e a crise da economia açucareira atingiram uma população que sofria o mais amplo leque de privações. A falta de alimentos e emprego já eram notados nos pequenos ataques feitos contra a Câmara em razão do aumento dos preços e o desenvolvimento de outros problemas. Paralelamente, a realização de saques aos armazéns e o incêndio do Pelourinho mostraram que uma necessidade de mudança partia da população mais humilde.
            No conjunto de reivindicações elaborado pelos conjurados da Bahia podemos perceber o tom popular dessa manifestação de descontentamento para com as autoridades metropolitanas. A transformação do sistema tributário, o incremento do salário dos militares de baixa patente, a liberdade comercial, a ampliação dos direitos políticos e o fim da escravidão definiam o contraste dessa revolta com a Inconfidência Mineira.
Mesmo não buscando a libertação de todo o ambiente colonial, podemos perceber que a Conjuração Baiana mostra outro lado pouco visto na historiografia do nosso país. A insatisfação daqueles que eram excluídos indica que as injustiças daquele tempo não foram sentidas de maneira passiva pelos desprivilegiados. Em contrapartida, o elitismo da Inconfidência Mineira demarca as contradições de uma elite incapaz de abrir mão de seus interesses para a construção de uma nova sociedade.

Por Rainer Sousa - Mestre em História

Questões sobre o texto:
1 - Porquê podemos dizer que a independência do Brasil não fazia parte dos interesses das revoltas ou levantes coloniais?
2 – Defina Pacto Colonial.
3 – Descreva as diferenças sociais que caracterizavam as Conjurações mineira e baiana.
4 – Quais motivações criavam um clima de revolta entre os baianos?
5 – Explique as diferenças entre as reivindicações ou interesses das Conjurações mineira e baiana.